21 agosto, 2007

O mal de todos-


Existe um hábito tão entranhado em nosso cotidiano, que sequer é percebido nas relações diárias.
Parece um complexo psicológico coletivo. Ou ainda mais. Uma deformação de caráter que atinge a todos. É grave. Possui raízes históricas profundas. No Ocidente, surgiu nos escaninhos da Idade Média e tomou corpo com o Concílio de Trento, lá no longínquo ano de 1563.

Esta doença social abate-se sobre todos, sem distinção. Acentua-se em determinados segmentos. Quanto mais diferenciada a pessoa, maior a incidência. A endemia é contagiosa e devastadora.

Importante é expor, de pronto, esta enfermidade social. Ao torná-la pública, indicando suas causas, certamente, pode-se minorar os efeitos da praga nascida tão distante no tempo e tão presente no nosso dia-a-dia.

Trata-se do disse-me-disse, a bisbilhotice. Ou mais claramente, o mexerico. Enfim, a fofoca, hábito nacional tão popular quanto o próprio futebol. Duas pessoas se encontram. De pronto, uma terceira sofre maledicência.

A endemia é violenta. Por vezes, transforma-se em epidemia. Agride imagens plasmadas em muitos anos. Em segundos, destrói reputações. Fere a honra e os traços marcantes de diferentes personagens.

Encontra-se presente em todas as partes. É universal. Do balcão do mais singelo dos bares à mesa sofisticada do mais exclusivo restaurante sempre surge a fofoca. Ela alimenta as refeições.



Os autores das delações, os criadores de fofocas, podiam obter bons empregos. Subir na hierarquia social. Colocar-se em posição de relevo. Participar do butim. Levar vantagem.

Altera convivência entre pessoas, gerando dor e profundas angústias.
Destruíam famílias. Agrediam culturas.


Fala-se mal de tudo e de todos. Proclama-se a imperfeição. Um niilismo insano assume todas as situações. Coroe todas as conquistas. Nada vale. Tudo torna-se frágil. Descartável.

Esta forma de agir gera uma depressão coletiva. Uma exaustão sem paralelo.

Importante romper este ciclo maléfico. As causas encontram-se em nosso passado comum. A Inquisição criou medos e privilégios. Vitimou pessoas e costumes. Gerou esta vontade indomável de praticar maledicência. Levou ao complexo de culpa vai além de romper os obstáculos econômicos. Precisa vencer a prática autofágica do falatório.

Ai vai dar certo.
O difícil é cortar a língua.