07 junho, 2007

Última Reflexão



Vive como se cada momento
Palavra, gesto, ou pensamento
Fossem os últimos.
E pensa como viverias se vivesses a viver
A cada um deles, o último instante?
Nunca dirias olá a ninguém,
Porque essa poderia ser a tua última palavra,
E olá não é boa despedida.
Não serias senão reflexão constante,
Interna mental e filosófica,
E inteligente e rebuscada,
E profunda e para nada.
Não, não podes viver cada momento como o último.
Não podes porque o último é só um,
E não a multiplicidade com que o queres.
E não podes também porque nesse último
Não vives, e não és senão sombra e passagem,
Etérea entre o que és e o que não és,
E entre o fim e a tendência para o infinito.
E antes desse último o que tens?
Outro último, ultimamente proximo,
O último antes desse em que não és,
E antes desse outro e outro e outro,
Sucessivamente últimos,
E sendo a tua vida, o todo do que és,
Composta pelos últimos estáticos em que não és,
E sem tempo, nem correr, nem nada que não estático.
E mais triste que não viver como o último momento,
Que afinal acontece a todos dos que vivem,
E não ser, não viver, senão parado em cada quadro,
O que é lei para toda a existência,
É estar parado no etéreo entre quadros,
A dor condensada no fotograma insensível,
A dor de existir sem se saber porquê,
E sem saber realmente se se sabe se se existe.
E saber que se não existir melhor:
Não passo dum sonho sonhado,
Quem sabe, talvez acordado,
Por quem não sonha sequer.