16 junho, 2007

POR MISERICÓRDIA




Traindo, cantas teus versos, teus segredos
por eles e para livrar-te deles.
Que serás após? Teu próprio verso?

Nunca outro a contar de ti
em utopia generosa de viver!
Que outro, se é às tuas costas
que ardem as verdades,
e é o teu sangue
que borda as páginas?

Trai, evola-se
o poema que te move,
alimento da alma receosa,
eco de outras vozes desejosas.

Por misericórdia hão de escutar-te
quando clamares por isto
nas chamas de "teus livros".

A música cuja letra não é tua
é a mesma que saúda
inocentes sem traição alguma,
e é isso que traduz teus berros
em versos claros, não mais a chuva
e tua ciranda de solidão e bruma.